Aqui no Canadá o esquema de estágio é um pouco diferente. Não sei se é 100% dos casos, mas até onde percebo universidade é período integral (ou quase). E os estudantes acabam pegando alguns empregos simples em lojas, lanchonetes e restaurantes que permitem trabalhar em horários mais flexíveis

Mas quando chega o momento de fazer estágio funciona bem diferente: Os estudantes oficialmente param os estudos por 4 ou 8 meses – dependendo de qual ano eles estão – e vão fazer estágio (que aqui chamamos de coop) em alguma empresa.

O processo seletivo é diferente também: As empresas interessadas em obter estagiários aplicam na universidades e mandam informações sobre a empresa e a vaga. Os alunos acessam essas informações, pesquisam e mandam a lista de empresas que interessam para a universidade.

Essa novamente faz o meio-de-campo e manda uma lista de currículos para a empresa, onde então selecionamos alguns alunos para a entrevista.

Feitas as entrevistas a empresa responde para a universidade: Dos X alunos que entrevistei eu tenho N vagas abertas e minhas preferências são: Alice, Bob, Charlie, Dave e Eve, por exemplo.

Do outro lado os alunos estão fazendo a mesma coisa: Entrevistei para N números de empresas e minhas preferências são A, B ou C.

Com isso concluído a universidade faz os parzinhos onde as empresas e os alunos gostaram uns dos outros e pronto. Contratados.

Vale dizer que os estágios são bem pagos. Pelo menos onde trabalho os estagiários – mesmo sem nenhuma experiência – recebem umas 3 ou 4 vezes mais do que num trabalho de varejo, por exemplo.

Logo que são admitidos é preciso que os estagiários se reúnam com o gerente e tracem um plano com os objetivos para o período do estágio. Isso é submetido para a universidade e re-avaliado uma vez no meio do estágio e depois enviado um feedback final quando acaba o período.

Ao final do estágio os alunos voltam à universidade para mais estudos. Isso acontece duas vezes durante os 4 ~ 5 anos do curso.

Do ponto de vista da empresa exige-se bastante dos estagiários. Nada de tirar xerox ou ir comprar café (pelo menos na nossa empresa). Exigimos alta performance, qualidade de trabalho e dedicação, obviamente entendendo as limitações da falta de experiência.

Em troca os estudantes recebem treinamento na vida real do dia-a-dia da profissão, constante aconselhamento, indicações de leitura, aprendem novas tecnologias e tem pessoas muito seniors para dar orientações e mentorização.

Semana passada meus dois primeiros estagiários terminaram o turno deles e estão voltando para a universidade. Um deles disse que vai emendar um mestrado, mas o outro já oferecemos emprego quando ele terminar os estudos em menos de um ano.

E na semana que vem começa mais um estagiário, que está voltando para o segundo round depois de já ter feito o primeiro com a gente (antes de eu entrar na empresa). E na semana seguinte começam outras duas estagiárias, essas sem nenhuma experiência de trabalho.

A coisa principal que quero focar aqui é o seguinte: Estagiários tem muito potencial e muita capacidade. Só falta experiência e entendimento. É importante dar uma grande liberdade – supervisionada claro – e fornecer documentação e treinamento abundante. Com isso eles conseguem atingir níveis bem altos rapidamente.

Eu realmente fiquei impressionado com o tanto de coisas que meus dois estagiários fizeram em apenas 4 meses. Os resultados foram palpáveis e eu não teria conseguido fazer 1/4 do que foi feito sozinho. Lógico que pedi para refazer várias coisas, tive que corrigir muitos erros e gastei um bom tempo dando direcionamento. Mas eles foram ficando progressivamente melhores. Chegaram ao ponto de na hora de fazer revisão de código eu conseguir aprovar sem nenhum comentário!

Lembro que antigamente ainda no Brasil eu tinha uma mentalidade de meio zoar / tirar sarro / subestimar estagiários. Hoje eu vejo que eles são excelentes. Só precisam ser bem pagos e bem gerenciados. Em pouco tempo eles começam a agregar um imenso valor.