Eu me identifico cada vez mais com a cultura canadense. Aliás, eu acho que já era canadense mesmo antes de ser canadense. Nascer no Brasil foi um mero desvio de trajeto.

Uma das coisas típicas da cultura canadense que ando mais usufruindo ultimamente é a aquisição de itens de segunda mão. Eu sei, eu sei. Heresia na cultura brasileira. Coisa de segunda mão é o que damos pra faxineira, pro filho do pedreiro ou pro pedinte que bate na porta. Brasileiro tem que ser melhor que isso. Tem que comprar coisa chique. De marca. Quanto mais caro melhor. Parcela uma camisa em 24 parcelas no cartão. É sem juros!

Trouxas.

Durante a primavera e verão aqui as vendas de garagem são abundantes. Todo Sábado e Domingo em tudo quanto é vizinhança tem pelo menos uma ou duas casas vendendo coisas. Em algumas comunidades os vizinhos se reúnem e fazem uma mega-venda de garagem.

Coisas são vendidas literalmente por centavos.

É comum também as pessoas às vezes resolverem fazem uma limpeza na casa e antes de fazerem sua venda de garagem chamam os amigos mais chegados e dizem: Escolhe aí. Pega o que quiser pra você. Quase toda a nossa casa foi decorada assim.

Já compramos outras coisas como bicicleta ergométrica, processador de alimentos e até nossa cama num site de segunda mão chamado Kijiji. Sempre pagando uma mixaria em coisas que custariam significantemente mais.

Mas recentemente o que eu peguei gosto foi comprar roupa usada. Tem uma loja aqui chamada Value Village, que basicamente recebe doações de coisas usadas, separa o melhor e coloca pra vender e reverte os lucros pra caridade.

Eu sou extremamente pão-duro e por isso costumo usar minhas roupas até estarem literalmente indecentes. Quando a esposa me proíbe de colocar uma camiseta eu sei que chegou no limite e precisa ser substituída.

Não reclamo muito de camiseta, já que facilmente vou no Wallmart ou Old Navy e compro uma nova por 7 a 12 mangos, o que não é ruim. Calça jeans já é uma coisa que me deixa mais cabreiro. Dificilmente acho uma calça decente por menos de 15 pilas, normalmente indo mais pra uns 20 ou 25 mangos, por isso tento tirar pelo menos uns 2 anos delas.

Mas outras coisas, como casacos, moletons, camisas e sweaters… Ai complica… Facilmente 30, 40, 60 mangos numa peça de roupa. Fala sério. Tenho cara de milionário?

Entra o Value Village.

Recentemente íamos sair de férias e chuva era uma possibilidade. Andando a pé o dia inteiro achei que um casaco de chuva seria uma boa idéia. Mas pera, as férias já vão ser caras o suficiente. Value Village ao resgate. 5.99 num casaco usado. Perfeito pras minhas necessidades.

A esposa achou um colete, na sessão de crianças, por 4 mangos! Procuramos no site do fabricante e o preço de varejo é mais de 70 doletas:

E o mais interessante é que eles meio que chutam o preço das coisas e não necessariamente conhecem todos os produtos que são doados. Isso significa que você precisa gastar um tempo razoável na loja – que é imensa – fuçando em todos os departamentos para achar alguns tesouros.

Eu, por exemplo, uso nos meus treinos camisa de compressão da Under Armour, que é uma excelente marca. Mas como é muito cara (50~60 mangos cada) pros treinos mais leves eu uso EverLast mesmo (~20 mangos). Outro dia a esposa fuçando na sessão de camisetas femininas achou uma camisa de compressão (masculina) da Under Armour nova em folha. Aparentemente nunca nem foi usada. Por 15 pilas! YES!

Comprei um colete da Nike outro dia por 6 mangos. Estava sujo e meio fedido, é verdade. Mas depois de lavar e secar está perfeito. Um colete de uns 80 mangos. Desculpe, mas não tenho a menor vergonha de admitir que compro roupa usada. Ou que ganho de amigos e conhecidos.

Prefiro muito mais a cultura canadense onde tenho humildemente um monte de coisas de qualidade de graça ou por uma pechincha do que a cultura brasileira onde tem-se orgulhosamente meia dúzia de coisas opressivamente caras e uma bela dívida no cartão de crédito.