Another Geek Blog

Relacionando-me com meus colegas de trabalho

A parte mais complicada do meu trabalho é o relacionamento com os outros colegas. E não é pelo motivo que a maioria deve ter pensado ao ler a frase anterior.

No Brasil

Nos meus empregos anteriores no Brasil sempre tive a sorte de trabalhar com  pessoas sensacionais. E todos sabem que (in)felizmente a área de tecnologia é predominantemente masculina. E apesar do que muita gente pensa, nerd não é aquele sujeito franzino e medroso que fico caracterizado depois de uns filmes da década de 80.

Posso dizer então que sempre trabalhei com um bando de macho mal-educado pra cacete. E não me excluo da lista, pois no meio de tanto nego falando palavrão e tirando sarro um do outro o tempo todo, eu consegui o posto mais alto ao ser chamado de ogro por uma das poucas mulheres com quem já trabalhei.

Moi

Não sei se é regra em qualquer lugar isso, mas me lembro com saudades de alguns diálogos que tínhamos no dia-a-dia do time:

– Ô seu animal, olha a m*** que você fez
– Filho… Quem te trouxe?
– Não, burro!
– NO. NO. TAMPOCO.
– Eu vou te prejudicar ™ – Marcelo
– Mano… Se eu te der três tartarugas uma foge, uma morre de fome e a outra aparece grávida.
– O viado, vem aqui.

Um dia típico começava com:

Pessoa 1 – BOM DIA!
Pessoa 2 – Só se for pra você

E acabava com:

Pessoa 1 – Aê, mano. Vai ficar mais um pouco ai?
Pessoa 2 – Putz. Vou.
Pessoa 1 – Pois é. Eu estudei. To indo embora.

Além de dar risada o dia inteiro, esse tipo de relacionamento bem pessoal ainda ajudava muito no team-work e as avaliações que recebíamos constantemente demonstravam isso.

Era certeza que se alguém precisasse de ajuda, alguém ia largar o que estava fazendo e ia correndo pra acudir. Isso apesar da resposta no telefone ou no instant messenger ser invariavelmente “eu quero que você se fo**”.

Volta para o presente

Todo mundo aqui é MUITO educado, como eu e a esposa já comentamos diversas vezes nos blogs.

Todo mundo também é bem reservado, fala baixo e evita piadas.

Quando você chega de manhã no serviço sempre te cumprimentam com um “Bom dia, Fulano. Como foi sua noite?” ou “Bom dia. Viu que dia lindo lá fora?”

Eu juro que tenho que segurar pra não responder, no melhor estilo ogro de ser: “Aê, mano. Cê é bicha?”

Um outro dia resolvi fazer uma piadinha. Cheguei pra um colega e falei: “Black, strong and hot?” (algo como Preto, forte e quente?).
O cara ficou totalmente sem graça, com o rosto todo vermelho e paralisou olhando pra mim. Não se mexeu nem respondeu nada. Ai eu tive que terminar a piada, né? “Wanna Coffee?” (Quer café?).
Ai que ele percebeu que era piada e respondeu “I though you were asking how I like my men” (Pensei que você estava perguntando como eu gosto dos meus homens).

Tenho certeza que se fizesse essa piadinha pra qualquer ex-colega no Brasil ia ter uma resposta de volta, em menos de 2 segundos, e mais suja do que posso falar neste blog, que tem criança lendo.

 Contexto

Isso sem falar do contexto cultural. Com os anos passado no Brasil uma bagagem imensa de cultura se armazena nas nossas cabeças e referências podem ser feitas o tempo todo, sabendo que existe 80% de chance da outra pessoa entender.

Frases como “a rapadua é doce, mas não é mole não” simplesmente não tem como serem reproduzidas em inglês.
Quem dirá “pra meio entendedor…” ou “conta tudo pra sua mãe, Quico”.

Esses dias, no meio de um debug junto com um colega ficamos em dúvida se deveríamos ou não continuar o processo apesar do erro. Como eu julgava que o erro que deu não ia ser impeditivo eu larguei, instintivamente: Mission assigned is mission acomplished. (Missão dada é missão cumprida).

Não preciso nem falar que o nego travou, né? Não sabia se dava enter, se apertava backspace ou se perguntava o que eu queria dizer. Depois de uns 10 segundos de paralisia ele achou melhor perguntar. E ai toca eu explicar sobre Tropa de Elite, sobre a frase e como a mesma se encaixava no contexto que ele tinha me perguntado.

Difícil… Muito difícil…

Enfim, acho que encontrei uma coisa que sinto falta do Brasil: Meus colegas de trabalho. Qualquer um deles.  Até o Brás*!! (Será que o Brás lê o meu blog?)

*Piadinha contextual que vale a pena explicar. O Brás era um dos meus colegas mais experientes, com anos e anos de mercado. Mas quando caiu no nosso time vira e mexe alguém falava: “Pô! Se até o Brás consegue…” e ele ficava POSSESSO com isso. hahuahuahua…

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