Sim, hoje é Thanksgiving aqui no Canadá. Não, não é no mesmo dia que nos EUA.
Eu gosto um bocado desse feriado pois o conceito é interessante. Nossos dias, semanas e meses são tão corridos e ocupados, sempre pontilhados por altos e baixos, vitórias e derrotas que acabamos passando batido um ano após o outro sem parar para lembrar do que somos gratos. Mas esse feriado nos força a lembrar.
Eu tento me esforçar diariamente para lembrar de ser grato mas, por incrível que pareça, isso não é uma tarefa muito fácil. Temos um dia ruim no trabalho, recebemos uma notícia desagradável de um amigo, alguém fecha a gente no trânsito e BUM! O dia está acabado.
Independente de você saber ou não, acreditar ou não, querer ou não existe uma coisa chamada “Graça comum“, que é a Graça de Deus extendida a toda a humanidade. Seja você um Cristão fervoroso ou um ateu cético. Apenas essa graça comum já é algo digno de reverência e de gratidão:
Eu sou grato pelo nascer do Sol, mesmo no inverno quando ele só dá as caras passado das 8 da manhã e desaparece lá pelas 4 da tarde, antes de eu sair do trabalho. Sou grato pelo ar que eu respiro, cá entre nós, bem mais puro que eu costumava respirar em São Paulo. Mesmo quando é tão gelado que meu nariz perde a sensibilidade e faz meu olho lacrimejar e congelar. Sou grato pela chuva, pela neve e pelo orvalho, mesmo quando preciso acordar 5 da manhã para remover meio metro de neve pra conseguir tirar o carro.
Eu poderia a seguir listar todas as coisas boas que aconteceram esse ano e como sou grato por elas, porquê é verdade. Mas é fácil ser grato por coisas boas. Mais difícil é tentar ser grato pelas coisas que não parecem tão boas assim. Mas a instrução para mim, como Cristão é: Em tudo dai graças.
Por isso eu sou grato pelos desafios que enfrentei esse ano. Sou grato pelos que eu venci pois foram dificuldades superadas e sou grato pelos que não venci pois foram lições aprendidas.
Sou grato por tudo que eu não consegui fazer e não consegui conquistar, pra manter meu orgulho sob controle e me despertar humildade.
A próxima coisa pelo que sou grato exige um pouco de explicação e contexto: Nossa vida é curta e passageira. Mesmo quem vive muito, 80 ou 90 anos, é um tempo bem curto nesse mundo (estamos em 2014, o que significa que alguém precisaria viver 25 vezes por 80 anos só nesse perído que chamamos de DC).
Conhecendo a verdade e sabendo que existe uma outra esfera de existência – sendo essa eterna – eu realmente não me preocupo demais com nossa vida por aqui. Mais importante para mim do que esse mundo é o que vem depois dele, pois isso é o que vai ser o resto da nossa existência. Aquele ditado que diz “vim ao mundo pelado, desdentado e analfabeto: o que vier é lucro” não poderia ser mais verdade. Aliás um sujeito chamado Jó num mesmo dia perdeu sua fortuna e todos os seus filhos e filhas numa tragédia épica. Bateu um desespero tão grande que ele rasgou as roupas que estava vestindo, raspou a cabeça e se jogou no chão. E lá jogado, chorando e soluçando ele falou “Nu saí do ventre de minha mãe e nu tornarei para lá; o Senhor o deu, e o Senhor o tomou: bendito seja o nome do Senhor.”
E ainda nesse contexto: Do que adianta trabalhar, estudar, aprender, malhar, correr, lutar e acumular bens e viver 80 anos se vamos morrer e tudo isso vai ficar para trás? Absolutamente nada do que juntamos aqui vai ter valor quando a gente estiver a sete palmos de terra. Do que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma?
É preferível ter então uma vida curta nesse mundo, mas viver eternamente uma vida de perfeição e abundância. E é aqui que eu queria chegar: Perdi uma pessoa muito querida na minha família esse ano. Foi uma tragédia, pois ela era tão jovem e cheia de vida e potencial. Mas foi uma tragédia apenas se eu olhar numa perspectiva vazia e humanista.
Foi uma curta e dolorosa batalha contra o câncer e durante essa batalha minha prima e o marido dela foram salvos. Essa é a Graça Especial que Deus reserva para os eleitos. E é essa graça que me faz saber que eu não perdi a minha prima, mas sim que eu mal vejo a hora de me juntar à ela.
Não posso em sã consciência dizer que sou grato pela morte da minha prima mas eu posso tranquilamente dizer que sou grato pela vida eterna dela. Apesar dos meus sentimentos egoistas quererem ter aproveitado mais a companhia dela pelos próximos 50 anos só um pouco de paciência e vou poder aproveitar por toda a eternidade.
O que eu quero dizer hoje é que indiscutivelmente minha vida é cheia de coisas boas, mas também é cheia de desafios e tragédias e é certo que dias piores virão. Mas eu posso ser grato pelos altos e pelos baixos, porquê eu sei o que está por trás da Matrix.
Happy Thanksgiving!