Ainda não consigo acostumar

By | March 26, 2009

Eu perdi a conta do número de projetos envolvendo grandes migrações de sistema que participei. Como eu trabalhava no time de transição de projetos de outsource de uma grande empresa de IT isso faz todo sentido, óbvio.

Então deixa eu explicar como funciona um projeto, não importa se grande ou pequeno, numa empresa assim – e consequentemente como eu estava acostumado:

  • Um grupo de arquitetos de soluções conversa com o cliente para entender as necessidades, o ambiente atual e os objetivos
  • Os TSA (Technical Solution Architects) montam o budget, estimam as horas necessárias, tamanho da equipe e tecnologias a serem usadas
  • O Executivo da conta fazia uma requisição para o time de outsourcing pedindo um gerente de projetos, que por sua conta entra em contato com cada gerente de área e avisa quantos recursos vai precisar e quantas horas de cada para o projeto. É marcada uma reunião de kickoff interna onde o gerente de projetos e os TSA explicam o projeto. O GP escolhe um dos profissionais técnicos (de qualquer uma das áreas) para ser o líder técnico.
  • Todos os envolvidos passam seus contatos para o GP (incluindo telefone celular e de casa). Uma lista telefonica pro projeto é criada e distribuida a todos os envolvidos.
  • Todo mundo sabe o seu papel e o papel dos outros. Qualquer problema deve ser endereçado diretamente entre os técnicos, exceto em caso de dificuldades maiores ou pendência de decisão, situações onde pode-se envolver o GP.
  • Todas as N fases do projeto pré-migração são executadas
  • Duas semanas antes da migração final o GP, o líder técnico e todos os técnicos envolvidos no projetos tem que comparecer a uma reunião com o time de change management e risk management. Sabatina é o termo que me vem à cabeça. Experimenta não ter algo definido ou ter alguma coisa pendente e você vai ser publicamente execrado, seu gerente contactado e adeus bônus (best case scenario) ou adeus emprego (worst case scenario)
  • No dia da migração você sabe quando começa, mas não quando termina. Enquanto a migração não tiver sido 100% concluída ninguém volta pra casa, ninguém dorme, ninguém escapa. Dê um beijo na esposa e lembre-a que não adianta ligar perguntando que hora você volta. No máximo pode perguntar que dia. Numa dessas eu varei 32 horas acordado, trabalhando.
  • Se algum time termina a parte deles e vai embora e você percebe que tem algo faltando ou errado, não interessa que o nego passou 58 acordado trabalhando. Ele pode ter acabado de chegar em casa e deitado na cama, mas você vai ligar pro celular dele, depois pra casa dele e depois pro gerente dele até conseguir falar com o cara. Se nem o gerente do cara conseguir falar com ele, ele vai ter que parir um outro técnico que conheça o sistema e esteja familiarizado com o projeto. Fod**-se. Problema dele.
  • O Projeto termina, todo mundo ganha prêmio, bônus, almoço em churrascaria e é publicamente parabenizado durante as reuniões departamentais ou nas “all hands meetings”

Acelera para os dias atuais.

Nossa universidade tem outra faculdade associada, mas é pequena, não tem time de IT e consequentemente nós cuidamos da infra deles por uns trocados.  E meu gerente mandou um email para todo mundo no grupo em algum momento do ano passado, genericamente perguntando se alguém tinha alguma idéia para substituir um Exchange 5.5 nessa faculdade.

Long story short eu abracei o projeto, que acabou virando uma coisa grande. Afinal você não tira o Exchange 5.5 e deixa um NT 4.0 rodando numa máquina de 1998 como controlador de domínio, né?

Gerente de projeto? Solution Architect? Kickoff meeting? Isso é pros fracos. Deixa o rookie (aka eu) tocar o projeto inteiro e seja o que Deus quiser.

Hoje foi o primeiro dia de migração e a primeira coisa a se notar foi o seguinte: Um cara da minha equipe vai embora às 16:00hrs todo dia. Adivinha que horas ele foi embora hoje? 16:00hrs!!!! E daí que menos da metade da migração foi feita? SÃO DEZESSEIS HORAS!

Os outros vão embora às 16:30, então já começaram a olhar no relógio também. Os usuários já começaram a perguntar se ia demorar muito, porquê eles iam embora às 17:00hrs.

Meu… vocês tão falando sério? Assim, vocês tem consciência que tá tudo offline, né? Que metade de vocês não tem email, não consegue autenticar na rede e estão sem acesso aos seus arquivos? Caracas… que povo cuca fresca.

Não teve jeito, tive que falar que a gente continuava amanhã.

Mas como eu não consigo deixar as coisas pela metade, quando cheguei em casa resolvi “dar uma olhadinha” e, lógico, vi que o acesso externo não tá funcionando. Nego fez m* na configuração do firewall.

Passei a mão no telefone e liguei pro gerente (que cuida tanto da minha equipe quanto da equipe de redes) e expliquei pra ele a situação: “Olha… o firewall tá errado. Eles não tão recebendo emails com essa configuração errada. Vamos ligar pro cara de rede??”

E a resposta que quase me fez cair da cadeira: “Ah… não precisa não. Que mal faz não receber email um dia? Amanhã conversa com o pessoal de rede quando chegar no escritório”.

TA QUEO PARIU…

7 thoughts on “Ainda não consigo acostumar

  1. Deborah

    Posso falar, com toda a sinceridade?

    Adorei a resposta do cara. Essa pressa louca só existe porque a gente inventa. Uma universidade não tem milhões em jogo a cada segundo, pra eles realmente não faz diferença ficar mais um dia sem e-mail.

    Bom procê, uai.

  2. Flá

    Lin, vc vai enfartar assim….. tsc, tsc, tsc.
    Há quanto tempo vc mora aqui no Canadá mesmo? Ainda não aprendeu que a velocidade aqui é marcha ré?

  3. Luiz Capitulino

    Eri,

    Você abraçou o projeto e seu gerente disponibilizou uma equipe para você ou os caras estavam lá ‘pra dar uma mão’?

    Independente do caso, como você estava na linha de frente do projeto, não seria bom você mesmo ter feito o planejamento disso levando em conta o horário que os caras vão embora?

    É sempre fácil falar dos ambientes alheios, mas surgiu a dúvida. 🙂

  4. nod3vic3

    Eita vidão desses caras. Aqui não tem esse negócio não, ou acaba ou acaba. Não precisa de uma mão aí, to doido pra conhecer o Canadá e se me aceitarem ficar por aí.

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