Esses dias a esposa me perguntou se eu estava gostando do emprego.
O que a motivou a perguntar isso foi eu estar empolgado com as férias que vou ter essa semana. É uma história longa, mas resumindo eu comecei a trabalhar mês passado e já estou saindo de férias de sexta até dia 27. 😉
Na verdade nem estou empolgado com as férias, mas sim com as visitas que vamos ter pro Natal e Ano Novo. 🙂
Mas ai eu reparei também que apesar de estar adorando esse meu novo emprego eu quase não falei dele.
O primeiro motivo pra isso é que assinei trocentos contratos de sigilo, confidencialidade e ética que tenho medo até de respirar durante o trabalho.
Não é pra menos. O cliente que atendo é uma das maiores empresas dos EUA e ainda por cima do ramo financeiro. Sigilo é fundamental, mesmo da parte de um terceiro mané igual eu que não tem acesso a quase nada.
O que eu posso falar é que estou trabalhando com Linux e Solaris, o que é tudo que eu sempre gostei.
Na última empresa por onde passei eu aprendi MUITA coisa e virei um profissional de verdade, mas infelizmente lá eu estava trabalhando com redes TCP/IP. Basicamente equipamentos (switches, routers, firewalls, load-balancers) e serviços (DNS, DHCP, email).
Mas eu gosto mesmo é de Unix e agora tenho o privilégio de trabalhar com isso. E não é qualquer arroz-com-feijão não. É uma estrutura simplesmente sensacional.
Acho que tenho gabarito pra falar se uma infra-estrutura presta ou não. Já atuei de forma dedicada, pontual ou em projetos especiais em empresas com mais de 200.000 usuários, empresas que são as maiores ou estão entre as maiores em seus setores, em segmentos como alimentação, financeiro, tecnológico, serviços, etc, etc.
Quando eu olho pra uma infra eu faço uma análise crítica baseada em tudo aquilo que já vi e vivi em outras situações e consigo identificar se o que estou vendo é dor-de-cabeça ou a solução pros problemas de todo sysadmin.
Fico feliz em dizer que no meu trabalho atual a infra é o sonho de todo sysadmin. As coisas não foram simplesmente implementadas na louca. Tudo muito bem pensado e planejado. Alguns documentos com as bases da infra tem mais de 12 anos e ainda são úteis.
Eu estou no time de operações de Unix, mas existe também um time de engenharia. Os caras são OS caras e tem O emprego.
Basicamente eles são pagos pra brincar trabalhar com produtos muito muito caros. Eles compram o que tem de mais moderno, avaliam e colocam na listinha de presentes do pessoal de operação. Lógico que cada análise leva pra mais de ano e o projeto pra implementar o produto pode levar vários anos, mas é assim que as coisas devem ser.
Fazendo as coisas deste jeito ao longo dos anos eles conseguiram uma infra que eu nem sabia que era possível montar com Linux e Solaris.
Como eu disse estou no time de operação. Mas não é uma operação qualquer. São operações especiais (NUNCA SERÃO!) envolvendo monitoramento pró-ativo de problemas.
Isso significa que na verdade não atuo em situações críticas, mas apenas em problemas secundários que ocorreram durante o dia anterior, de forma a resolvê-los antes que realmente virem uma ocorrência crítica.
Coisas do tipo morrer um caminho do storage (tem dois caminhos), um daemon de infra morrer e não voltar (daemons de infra não são críticos) ou um backup falhar.
Já entendeu a conseqüencia disso, né? Vou embora todo dia no horário e nunca ninguém me liga fora do expediente. 😉
E morram de inveja agora, ex-colegas: Tem um script agendado pra todo dia 18hrs ir lá e fechar todos os tickets que sobraram na fila com uma resolução do tipo “foi mal, mas não deu tempo de ver isso.”. ZERO de backlog no dia seguinte.
Como se isso já não fosse legal o bastante, meu chefe ainda falou que a política dele é a seguinte: Se não quisermos mais fazer um determinado tipo de trabalho podemos criar uma forma de automatizar aquilo, preparar uma documentação pro time do primeiro nível fazer troubleshooting e follow-up e ele transfere a atividade pra eles.
Ai ele vai, conversa com o cliente e pede novas atividades, novos treinamentos, etc. Até a gente descobrir como automatizar, passar pro primeiro nível e assim continuar o ciclo de diversão trabalho.
E como a palavra-chave é automatizar, estou escrevendo tanto shell script que estou ficando até meio nerd. Até o momento me passaram 2 tipos de problemas pra gerenciar e já automatizei os dois. heheheheh…
Espero ter deixado claro que adoro meu trabalho e que agora sim estou realmente entendendo o poder do Linux em mega-corporações com mega-infras.
Fica um agradecimento especial para o Aurélio Marinho Jargas cujo artigo “Canivete Suiço do Shell” está pra virar o home do meu Firefox. Além disso tenho a excelente Apostila Shell Avançado que me livrou a cara várias vezes.