Não sei exatamente a data, mas em algum momento perto de 1996 eu ouvi falar sobre Unix. Na época em que o sistema operacional disponível para as massas era o Windows 95, fiquei curioso sobre o que era Unix. Era uma ideia muito abstrata, já que eu nunca tinha visto uma máquina rodando Unix pessoalmente. Conforme fui tendo mais acesso à internet e às informações em 1998, comecei a usar Linux como meu sistema operacional.

Nessa mesma época, me envolvi com um grupo de outros nerds. Graças ao patrocínio do meu pai, adquiri um PC extra que usava para experimentos. Nos próximos dois anos (e francamente até hoje), comecei a testar todas as variedades de Linux que conseguia colocar nas minhas mãos. Espero que boa parte da audiência desse blog saiba, mas só para reforçar: Linux é um clone do Unix, criado do zero, mas seguindo boa parte das ideias. Então, apesar de não ser um Unix genuíno, com raízes no código original do Bell Labs, na prática ele é sim um Unix.

Mas isso não quis dizer que eu não fui atrás de um Unix de verdade. E felizmente opções open source e gratuitas não faltaram. FreeBSD e OpenBSD logo entraram no meu repertório. Me senti razoavelmente em casa com ambos. Cheguei até a usar o FreeBSD como meu sistema principal por alguns meses. Na universidade, tive acesso ao AIX da IBM. Também me inscrevi em cursos da finada Sun Microsystems para aprender Solaris. Cheguei a fuçar um pouco num SCO Unix que achei em algum lugar.

Avançando a história quase 24 anos, em 2022 sou contratado numa empresa onde o laptop é MacOS. Pela primeira vez, coloco as mãos em um para meu uso diário. Aqui e ali, já tinha mexido um pouco. Em algum momento, a esposa teve um Mac, mas eu não interagi muito nem me interessei. Odiava o teclado diferente, a falta de atalhos, a estrutura de diretórios estranha. Sei lá.

Apesar de o MacOS ser tecnicamente Unix, não me senti em casa e preferi continuar com Linux. Outra coisa que me manteve longe do ecossistema da Apple foi o preço exorbitante das coisas. Com o preço de um Mac básico, dava para comprar um PC muito mais turbinado e instalar Linux nele. Pagar aquele valor só pelo software me parecia idiotice.

De qualquer forma, recebi o MacBook Pro para o trabalho e fui forçado a me adaptar. Aprendi a instalar coisas e customizar o sistema para me sentir mais à vontade. Aos poucos, ganhei confiança nos atalhos de teclado. Analisando friamente, hoje em dia com um browser e uma linha de comando dá para fazer de tudo. Com meu laptop pessoal Linux e o do trabalho MacOS, me senti fluente nos dois sistemas depois de um tempo.

Mas uns dois meses atrás, esse ano, percebi um problema: um grande número de ferramentas de IA, um campo em que estou trabalhando forte, começaram a aparecer para MacOS, mas não para Linux. É um campo competitivo e que se desenvolve rápido. Comecei a considerar se deveria finalmente tirar o escorpião do bolso e comprar um laptop Mac para mim.

Os eventos se alinharam. Com uma viagem em vista, onde não queria levar meu laptop principal e correr o risco de perdê-lo ou roubá-lo, decidi comprar um MacBook Air. Sendo ele meu – e não da empresa –, pude customizar como achei conveniente. Vou dizer que estou satisfeito até o momento. De forma alguma diria que é melhor que Linux, mas uma coisa que gosto muito é que ele acorda imediatamente. Se fecho e guardo, assim que abro e encosto numa tecla, está pronto para uso. Não consegui tal responsividade com o Linux até hoje.

A performance também é decente. Graças à GPU, consigo rodar Ollama e vários modelos localmente. Mas o mais impressionante é a bateria. São dois dias de trabalho tranquilamente sem carregar, exceto se exijo muito das GPUs, claro.

Não me desfiz do meu laptop Linux e vou continuar a usá-lo como minha máquina principal. Mas ter esse Mac superleve com uma bateria tão longa é muito conveniente. Eu simplesmente deixo ele na sala de estar. Quando acordo de manhã, já posso colocá-lo no colo e começar a usar. Consigo fazer nele tudo que não conseguia com o meu Chromebook. No caso de uma viagem, ele é efetivamente útil (de novo, não o caso do Chromebook).

Qual o plano de longo prazo? Não sei ainda, mas o DHH está me fazendo querer muito brincar com o Omarchy.