Eu sei que isso é verdade para TI, mas imagino que se aplique também a muitas outras profissões: estar continuamente aprendendo e se desenvolvendo é vital para se manter relevante no mercado. Por outro lado estudar é caro, consome tempo e é extremamente burocrático. É frustrante se desgastar tanto e no final das contas aprender tão pouco.
Por isso a minha bronca com o sistema de ensino tradicional (dê uma fuçada em outros posts aqui no blog). Sempre reclamo de como o ensino funciona tradicionalmente, mas acho que nunca fiz nenhum post de como eu estudo e aprendo coisas. Eu sou preguiçoso demais para linkar todos os artigos e estudos científicos que li nos últimos anos – e na verdade não salvei a maior parte deles – então se quiser saber mais sobre alguma coisa, o Google é seu amigo.
Uma coisa importante a comentar é que os recursos que vou indicar aqui são majoritariamente em Inglês. Imagino que tenha muita coisa em Português ai no Brasil, mas não vou saber indicar.
Táticas e técnicas
1. Definindo o escopo
Quando me interesso por um assunto novo o primeiro lugar onde vou é no Google. Busco genericamente o assunto e leio alguns blogs, o artigo na Wikipedia, os links relacionados e depois parto para o YouTube.
Isso normalmente resolve o meu maior problema inicial: Não saber o que eu não sei. Depois dessa fase inicial normalmente dá para ter uma boa idéia do escopo do que preciso aprender e onde focar para utilizar o Princípio de Pareto. Numa curta explicação o Princípio de Pareto faz um relacionamento 80/20. Por exemplo, aprender bem 20% de um assunto é o suficiente para o que você vai precisar em 80% dos casos.
Acho que nesse ponto é o que o Tim Ferriss chama de “desconstruir” um assunto. Sabendo o básico você define qual a menor unidade de conhecimento possível nesse assunto e então você estuda essas pequenas unidades.
2. Espaçando o estudo
O tempo ideal de cada sessão de estudo é entre 20 e 25 minutos. Mais tempo do que isso fica difícil de se concentrar e manter a atenção. Eu gosto muito da técnica pomodoro. Uso 4 sessões de 20 minutos, com 5 minutos de descanço entre elas. Quando essas 4 sessões acabam eu descanso pelo menos 15 minutos – ou mais do que isso. É importante que durante as sessões de estudo não hajam interrupções. Eu não checo emails, respondo Instant Messengers ou me distraio com nenhum tipo de notificação. É para isso que servem os intervalos.
Expandindo mais sobre os intervalos, 5 minutos é o suficiente para buscar uma água, um café, usar o banheiro ou navegar um pouco na Internet. Eu prefiro circular um pouco, olhar pela janela ou algo do tipo. O intervalo maior com certeza deve ser usado para sair do ambiente e fazer outra coisa. Uma caminhada, levar o cachorro pra passear, comer um lanche… O final das 4 sessões deve ser recompensador.
3. Mão-na-massa
A melhor forma de aprender e gravar conhecimento é efetivamente colocando a mão na massa. Aprender uma nova linguagem de programação, por exemplo, vai ser muito mais fácil se você escrever código. Não basta ler o código num livro, ou copiar e colar de um site. Digitar você mesmo faz diferença. Li alguns artigos que inclusive indicam que escrever à mão é ainda melhor para a memorização. Mas não. Obrigado.
Quando chego em algo que acho especialmente importante (veja Princípio de Pareto acima) eu gasto um bom tempo tentando criar meus próprios problemas e soluções. O exemplo tem duas variáveis? Será que consigo fazer com três? E com uma uma? Como faço para estragar isso? Como faço para consertar depois de ter estragado? Quais os erros mais comuns? Será que consigo fazer sozinho, sem olhar em nenhum material?
4. Praticar e resumir
Lá no passo 1 definimos as menores unidades de conhecimento para aprender. Ao final do estudo de cada uma dessas unidades é hora de praticar. Se parte do material tiver testes, provinha ou algo do tipo é a hora de fazê-los. Utilizar um deck de Flashcards é extremamente útil. Tem diversas apps para Android e iPhone, inclusive com decks para vários assuntos já criados pela comunidade.
Eu gosto de refazer os mesmo testes uma vez atrás da outra até conseguir acertar 100%. Acho útil achar outros testes e simulados na Internet e fazer esses também. Passear em fóruns de discussão e ler perguntas de outras pessoas e tentar responder (mesmo que apenas para você mesmo) também ajuda, principalmente se conseguir substanciar sua resposta com citações.
Alguns cursos disponibilizam um sumário da sessão no final, que eu acho extremamente importante. Se o seu material não tiver isso é uma excelente ideia você mesmo criar esse sumário. Leia esse sumário mais de uma vez antes de partir para os testes.
Por fim tente explicar o assunto para alguém que não tem absolutamente nenhum conhecimento sobre o mesmo. Isso é um dos fundamento da Técnica de Feynman. A explicação não deve utilizar jargões ou acrônimos. Por outro lado deve fazer amplo uso de analogias e português (ou inglês) simples e ser clara o suficiente para uma criança entender. Obviamente você não precisa realmente explicar para ninguém. Apenas faça de conta que já é o suficiente.
Indo além
1. Sono
Dormir é essencial. Dormir bem, um número suficiente de horas todas as noites e talvez até um cochilo durante o dia. Dormir consolida a memória. Isso sem nem comentar como é difícil pensar e se concentrar depois de uma noite mal dormida. Dar dicas de como dormir melhor está fora do escopo desse post, mas se houver interesse posso fazer um outro sobre esse assunto. De acordo com meu tracker eu dormi uma média de quase 9 horas por noite essa semana, o que é bem típico para mim.
2. Dieta
Não paro de me surpreender com os benefícios de dietas cetogênicas – como Atkins, por exemplo. Estudos têm demonstrado melhora nas habilidades cognitivas de quem segue uma dieta rica em gordura e baixa em carboidratos (além de todos os outros benefícios). Aqui um artigo (em inglês) de como utilizar uma dieta cetogênica para melhorar sua performance mental.
3. Exercícios
Eu sei que quando estamos precisando aprender alguma coisa fazer exercícios parece uma perda de tempo. Porém estudos demonstram que exercícios melhoram nossa capacidade cognitiva e portanto são um excelente investimento do nosso tempo:
Esses dados sugerem que a aptidão aeróbica melhora as estratégias cognitivas, permitindo responder de forma efetiva a um desafio imposto com melhor rendimento no desempenho das tarefas.
4. Suplementos
Cafeína sozinha é o suplemento mais popular, que praticamente todo mundo toma (cafezinho, alguém?). Não é especialmente eficaz para ajudar no estudos, mas parece ter pelo menos um pequeno efeito quando se trata de estudo passivo. Mas de qualquer forma ajuda a nos deixar mais alertas.
Em compensação Cafeína combinada com L-Theanina parace ser uma combinação bem efetiva. Aqui no Canadá tem para vender suplementos com a proporção ideal de Cafeína e L-Theanina, mas não sei no Brasil. De qualquer forma L-Theanina é um dos componentes ativos do chá-verde. Qual a proporção certa de xícaras de café vs xícaras de chá-verde para ser efetiva é algo que você vai ter que descobrir.
Um suplemento que pode parecer surpreendente quando se fala de capacidade cognitiva é Creatina. Normalmente pensamos em Creatina quando falamos de esporte, principalmente levantamento de peso e fisiculturismo, mas a Creatina é um excelente suplemento quando se trata de melhorar nossa capacidade mental. Não sei aí no Brasil, mas aqui Creatina é barato e tem para comprar em praticamente qualquer lugar, inclusive supermercados. 5g por dia e é só.
Finalmente
Pesquisando para escrever esse post descobri que um dos cursos que fiz alguns anos atrás está disponível em Português! Faça um favor para você mesmo e se matricule imediatamente no Aprendendo a aprender: ferramentas mentais poderosas para ajudá-lo a dominar assuntos difíceis (em Português) [Learning How to Learn]. É de graça!