Imagine cruzar o oceano sozinho, com nada além de uma mala e um punhado de esperanças. Foi o que fez uma das minhas bisavós, deixando Portugal rumo ao Brasil em um barco a vapor. Por outro lado, um dos meus bisavôs embarcou em uma jornada igualmente misteriosa, vindo do Líbano. Pensar nessas viagens me faz refletir sobre a coragem necessária para tais atos, especialmente em comparação com nossa realidade atual, hiperconectada.
Recentemente, durante uma viagem à Espanha, avisei minha mãe da minha chegada antes mesmo de o avião estacionar completamente. Isso me fez pensar: como seria para minha bisavó, chegando no Brasil, sem poder enviar notícias imediatas para sua família? Quanto tempo teria que esperar para tranquilizá-los?
Essa facilidade de manter contato constante veio à mente durante um passeio com Logan, nosso cachorro. Num dia, saímos para andar na trilha nos fundos de casa e eu esqueci meu celular. A sensação de pânico que senti foi surpreendente. Estava no meu próprio quintal, em um lugar familiar, mas a ausência do celular me fez sentir perdido. Refleti sobre como nos tornamos dependentes da tecnologia, algo impensável para minha bisavó em sua jornada solitária.
Minha dependência do celular se estende além da comunicação. Lembro-me de como, quando adolescente, eu sabia dezenas de números de telefone de cor. Hoje, mal consigo lembrar o número da minha esposa, dependendo completamente do meu celular para isso. Será que perdemos a habilidade de memorizar, ou ela apenas adormeceu, substituída pela conveniência da tecnologia?
A dependência também se manifesta na navegação. Dirigir em São Paulo sempre foi um desafio para mim, já que naquela época não tínhamos GPS. Ficava frequentemente perdido, procurando por placas que me guiassem a algo familiar. Agora, com a ajuda da tecnologia, dirijo sem medo, mesmo em lugares desconhecidos. Mas, se meu celular falhasse, eu estaria completamente desorientado.
Refletindo sobre essa dependência tecnológica, questiono: será que perdemos habilidades essenciais que nossos antepassados possuíam? Orientação sem GPS, memorização de informações cruciais, e até a capacidade de estar sozinho com nossos pensamentos, sem o constante estímulo do mundo digital.
Li uma vez que, se perdêssemos a eletricidade, voltaríamos à idade das pedras. Mas e se perdêssemos o GPS, a Internet, ou toda a rede celular? Não estou tentando fornecer uma resposta definitiva aqui, apenas compartilhando alguns “pensamentos de chuveiro” para que o leito faça sua própria auto-reflexão.
O que vocês acham?