O terror de todo pai e mãe é que seus filhos arranjem aqueles amigos que são uma má influência. Fumar, beber, usar drogas, entrar pra vida do crime, torcer pro corinthians… Vai saber no que seus filhos podem acabar metidos.

Felizmente para mim (e para meus pais ) eu nunca tive desses amigos de má influência. Talvez principalmente porque quase todos os meus amigos fossem da mesma igreja que eu, criados com certos valores morais “default”. ******

Talvez também porque freqüentei a mesma escola do jardim à 8.a série, onde eu era vítima de bullying desde que me lembro, de forma que odiava os boyzinhos populares que usavam calça rasgada, fumavam, falavam palavrão e me batiam no recreio. Não só eles como os valores deles, de forma que usar calça rasgada (ou qualquer outra coisa da moda), fumar e falar palavrão nunca foram coisas que me atraíssem.

Talvez porque em conseqüência do parágrafo anterior eu tenha feito só amigos nerds, onde a gente competia um com o outro pra ver que tirava a melhor nota, quem terminava a prova primeiro, quem tinha as melhores redações. Lembro de na terceira série no meio da prova cutuquei meu amigo Marco para perguntar em que pergunta ele estava. Eu não estava disposto a terminar a prova depois dele. Mas a professora achou que eu estava pedindo cola e me deu uma bronca animal. Pelo menos não tirou minha prova.

O que importa é que eu cheguei no colegial praticamente sem influência nenhuma de ninguém. Nem pra bom nem pra mau. E hoje eu estava pensando de como dei sorte de conseguir (poucos) bons amigos que me influenciaram muito bem, de um jeito ou de outro.

O primeiro foi sem dúvida o Júlio. Esses dias ele me lembrou que nossa amizade já vai pra 15 anos. Caracas. Tô velho.

No colegial eu continuava sendo nerd, mas mudei completamente o ponto de vista. Ao invés de competir pelas melhores notas, eu comecei a tirar apenas o necessário. Não que eu não pudesse tirar 10 em tudo, mas se numa prova eu precisava tirar 2 e tinham cinco perguntas valendo 2 pontos eu respondia só uma e ia embora.

Exceto nas matérias técnicas (fiz colegial técnico em PD), onde normalmente o Júlio e eu ainda nos dedicávamos um bocado. Mas um bocado um pouco demais até, eu diria. Enquanto o povo da sala ainda se matava para aprender o básico de MS-DOS a gente já tava criando malware em .bat para infernizar a vida dos “laboratoristas” da escola. Cada vez era um que pesquisava mais coisas e aparecia com mais um esquema sinistro pra fazer maldade.

Apesar de parecer ruim, na verdade foi ótimo. Aprendemos muita coisa dessa forma. Num espaço de tempo muito menor do que nossos colegas.

Mas o ápice mesmo foi quando o Júlio me apresentou “esse tal de Linux”. Influenciou minha carreira profissional até o presente momento.

Durante o colegial eu tive um potente 486 sx 25Mhz com 8MB de RAM, que obviamente ficou defasado logo e precisei de um novo PC. Foi procurando alguém de vendesse computador montado (já estava safo na época para não querer micro de marca) que conheci o Klaus.

Que figura esse cara, que no final virou um grande amigo. Mas outro que me influenciou totalmente no mundo geek. Me ensinou a climpar cabo, configurar rede (lembrando que eu tinha uns 15 anos), me deu os primeiros passos para instalar o Windows sozinho (isso foi antes do Júlio me mostrar o Linux), me arranjava tudo que era tipo de software e ainda me ensinou umas nomenclaturas estranhas, tipo SCSI, IPX, TCP/IP.

Como se não bastasse ele mesmo, quando liguei pra ele querendo comprar um novo PC onde eu iria rodar Linux na hora ele me falou: “Preciso te apresentar um outro amigo louco que eu tenho. Ele também tá com essas babaquices de Linux e acho que vocês iam se dar bem”.

Dito e feito. Conheci o Fernando (aka Freak) e ai mergulhei de vez nesse mundo geek que me cerca. Por influência dele larguei o Conectiva e parti pro Slackware, aprendi a configurar um servidor Linux de forma segura e comecei a entender melhor como as coisas funcionavam por baixo dos panos. Criptografia, shell script, apache, iptables, nmap. Horas discutindo funcionamento de um protocolo, um novo processador…

E numa dessas vezes que fui visitá-lo ele me apresentou o que foi a maior influência dele na minha vida: Comida japonesa. Há! Estava esperando uma coisa geek, né? uhauhauha…

Verdade seja dita, o maldito me falou que wasabi era um tipo de maionese e eu peguei uma garfada cheia e ia enfiar na boca, mas ele foi gente boa e falou: Experimenta um tanto menor, vai que você não gosta. Então foi só um quarto de garfada de erva forte. (-_-) .

Vale dizer que por ai eu já tinha uns 18 ou 19 anos e cheguei até essa idade sem nunca ter sido oferecido um cigarro, nenhum tipo de droga (exceto o Windows que o Klaus instalou pra mim) ou nem mesmo bebida. E nesse ponto eu já tinha minha personalidade formada o suficiente para não precisar mais “ser aceito no grupo”.

Não consigo me lembrar de mais nenhuma influência significativa até meus 24 anos, quando conheci o Tiago e o Marcelo lá em Hortolândia. Eu sempre fui um funcionário dedicado e tentei fazer bem o meu trabalho, mas o Tiago que passou as manhas não só pra mim mas pra todo o resto do time de como lidar com cliente, como gerenciar expectativas e pessoas e etc.

O Marcelo, em compensação, nos influenciou a sermos bons no que fazemos “só pra calar a boca de neguinho” e com suas delicadas respostas – “cara, eu vou te prejudicar intencionalmente” – mostrou como era um bom coleguismo. Mas a maior influência dele pra mim mesmo foi a respeito de que o trabalho deve ser feito da melhor forma possível segundo nossa própria perspectiva. Ou “Não to aqui pra fazer amigos”, segundo as palavras dele.

Por influência desses dois (e também de um gerente pentelho que a gente tinha) deixei de ser micreiro e passei a ser profissional de TI.

Como diria o outro: Nenhum homem é uma ilha e querendo ou não vamos ser influenciados por alguém, de alguma forma nessa vida. Eu só tenho a agradecer que meus amigos tenham me ensinado a ser nerd, manjar muito de computador e redes, ser um profissional decente e comer sushi.

Esse post fica dedicados a vocês, amigos. Podem imprimi-l0, juntar 3 reais e trocar por um café em qualquer padaria no Brasil (ou Suiça no caso do Tiago).

****** Nesse post excluí intencionalmente relatos sobre meus amigos da igreja, que me conhecem desde os 3 anos de idade e foram as maiores influências na minha vida. Precisaria de um livro só para isso e ainda assim eu seria injusto com um ou outro. Mas de forma alguma eles foram menos importantes do que os citados anteriormente. Inclusive dentre esses amigos “originais” foi que escolhi minha esposa. 🙂