Vamos começar do começo.

Eu já estive nos EUA pelo menos umas 5 vezes. Já tive um visto de turismo de 10 anos e meu visto atual é de negócios (B1/B2) com validade de 5 anos. Eu tirei ele quando trabalhava no meu antigo emprego, pois precisava ir até um cliente passar por treinamento.

Quem já foi pros EUA sabe que passar pela imigração lá é tão suave quanto o primeiro dia de curso do BOPE, mas com um pouco de educação e sabendo responder tudo que o inquisitor agente pergunta você passa tranqüilo e ganha o carimbinho que te permite ver o Mickey e gastar centenas de dólares em eletrônicos. Eu sempre passei por esta fase, com mais ou com menos dificuldade, mas nunca tive minha entrada nos EUA negada.

Pois agora estou numa situação semelhate à minha última ida pra terra do Tio Sam. Estou empregado em uma empresa de IT que está me mandando para Nova York ter treinamento no cliente. Extamente o mesmo caso da minha última entrada lá.

Chego eu, todo serelepe e saltitando, no aeroporto de Halifax hoje, econtro dois dos meus colegas de trabalho e meu gerente, todos canadenses nativos, fazemos o check-in e vamos pra sala de embarque.

Devido a um acordo EUA/Canadá lá mesmo na área de embarque já é considerado “solo americano” e tem a alfândega americana e o serviço de imigração.

Foi uma supresa pra mim, pois não estava preparado pra passar pela imigração aquela hora, mas como já passei diversas vezes e tinha na cabeça todas as informações necessárias eu rapidamente respondi tudo que o agente me perguntou e fui liberado pra ir pro meu portão de embarque.

Mas ai 5 minutos se passam e meus colegas/chefe não aparecem. 10 minutos… Meia hora… Que raios tava acontecendo?

Ao que vejo 4 (QUATRO) agentes do Departamento de Segurança Nacional me cercam e falam: O senhor pode nos seguir?

Nesse momento  brotou aquela dúvida se era melhor pedir uma cueca nova ou fazer uma piadinha: “Já que estão pedindo com jeitinho, eu sigo”. Mas achei melhor ficar quieto.

Me levaram para uma “área segura”, onde constava um imenso aviso dizendo que é proibido fotografar. Eu fiquei em dúvida fotografar o que, já que é só uma sala com meia dúzia de cadeira e alguns loosers (tipo eu) fazendo cara de bunda por estarem lá.

Sentei do lado do meu gerente e perguntei o que estava acontecendo, mas antes que ele me respondesse veio uma outra agente e me chamou pra dentro de uma salinha minúscula, com uma mesa, duas cadeiras, um computador, uma câmera e um leitor de digitais.

E ai começa a saraivada de perguntas: Como, onde, porque, quando, quanto, quem, com que.

Na escola eu odiava aquelas provas onde tinha uma pergunta simples, que você respondia com uma palavra e logo a seguir vinha escrito “Justifique”.

Pois é. Eu passei por algo que parecia uma versão macabra dessas provas. Acho que a única pergunta que não respondi foi se meu intestino estava funcionando bem. O resto foi tudo.

Dentre os documentos que apresentei pra eles estavam: Meu passaporte brasileiro, meu visto americano (B1/B2), meu PR Card (cartão de residente permanente no Canadá), carta da empresa atestando que eu estava viajando como funcionário deles, crachá da empresa, cartão de crédito corporativo, contrato de lease do apartamento onde ia ficar em Nova York, carteira de motorista canadense…

Depois de responder sem gaguejar 100% das perguntas feitas e apresentar todos os documentos pedidos a agente me falou: Você sabe porquê sua entarada nos EUA foi negada?

Eu segurei meus comentários mais maldosos, fiz aquela cara de gatinho do Shrek e falei, não… Porquê?

A cara dela tentando explicar foi ótima.

Simplesmente não tinha motivo. Estávamos 4 funcionários de uma subsidiária canadense de uma empresa americana indo receber treinamento de um cliente americano, com passagem de ida e volta, carta de apresentação, cartão corporativo pra despesas, contatos do cliente, todos com a mesma versão da história, mesmo passando por interrogatório entrevista em salas diferentes… Como você explica pra alguém nessas condições que a entrada foi negada?

Minha sugestão seria: Amigão, eu sou agente da imigração americana, eu não fui com a cara sua e dos seus colegas e se depender de mim você não pisa mais na Disney tão cedo. Se não gostou vai reclamar com o Papa.

Seria chato, mas seria a verdade. Eu ia entender e não ia achar ruim. Afinal eles são os donos do mundo e nós estamos aqui apenas fazendo peso.

O que me aborrece é que eles acham que a gente é otário. Rolou uma desculpinha do tipo “a carta da empresa não deixa claro o relacionamento dela com o cliente” ou algo assim.

Vamos combinar que ninguém aqui é muleque? Que palhaçada. Tá parecendo a ROTA em São Paulo que dá aquela geral malvada (com direito a tapa no saco durante a revista) e quando não acha nada fala que “recebemos uma denúncia anônima de um carro do mesmo modelo que o seu… blababla”.

O evento todo me deixou emputecido, mas isso não é o pior. O pior mesmo é que de hoje em diante eu vou levar canseira TODAS as vezes que for pros EUA, né? Um maldito compromissado agente da imigração invoca com a sua cara uma vez e pro resto da vida você toma canseira.

Sinceramente, se não fosse tão importante pra quem trabalha com IT tem a possibilidade de ir e vir dos EUA eu nem tentava de novo.

Ah, sim, no boletim de ocorrência  registro consta que se na próxima vez que tentar entrar nos EUA não tiver a documentação adequada você estará sumariamente banido da Universal Studios, Epcot Center, Hard Rock Café e qualquer outra coisa que fique do lado de dentro da fronteira americana.

Fomos finalmente convidados a sair e  enxotados de solo americano. Felizmente estava lá o Canadá, de braços (e Tim Hortons) abertos de volta a me receber.

Depois ele se perguntam porquê metade do mundo odeia americanos e a outra metade não nutre a menor simpatia por eles.