Já fazem alguns anos que mudei o foco da minha carreira de contribuidor individual para gerente, e a transição tem sido uma jornada rica em aprendizados e desafios.

Minha primeira experiência como gerente foi lá em 2010, numa empresa pequena. Na prática, eu gerenciava duas ou três pessoas, mas ainda fazia boa parte do trabalho técnico. Como o administrador de sistemas mais experiente, estava sempre envolvido nos detalhes: resolvendo problemas, criando soluções e atendendo usuários. Era um papel híbrido, mas não exatamente gerencial no sentido mais amplo.

Nos anos seguintes, voltei a me concentrar exclusivamente na engenharia até 2019, quando, inadvertidamente, me vi liderando de novo. Na nova empresa, meu conhecimento técnico e habilidade de elevar a qualidade do time, composto majoritariamente por júniors e estagiários, destacaram-se rapidamente. Investi tempo em educar e mentorar colegas, o que, em poucos meses, me levou à posição de líder. Liderar é desafiador porque, em TI, o líder tem toda a responsabilidade, mas nenhum poder formal. Seu impacto vem da influência positiva e da criação de um ambiente colaborativo.

Como introvertido que prefere e-mails a reuniões, essa posição exigiu que eu saísse da minha zona de conforto. No entanto, minha disposição de aprender, desafiar fraquezas e estudar gestão e motivação me ajudou a ser bem-sucedido. Quando meu chefe foi promovido a diretor um ano depois, fui indicado para sucedê-lo, assumindo oficialmente a posição de gerente.

Com o time crescendo para cinco pessoas, ainda dedicava 30 a 40% do meu tempo ao trabalho técnico. No entanto, minha próxima transição seria mais significativa. Ao ingressar na minha empresa atual, deparei-me com um time de mais de dez pessoas e uma complexidade que exigia menos execução técnica e mais liderança, mentoria e relacionamento. Entendi que poderia agregar mais valor desenvolvendo as pessoas do que assumindo tarefas técnicas diretamente.

Essa percepção me levou a investir intensamente na minha educação como líder. Li livros como Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas, Responsabilidade Extrema e Empatia Assertiva, ouvi podcasts, assisti a vídeos no YouTube e testei ideias em reuniões e discussões com colegas e líderes. Essa dedicação fez a diferença nas duas grandes reorganizações que vivi na empresa, onde minhas habilidades como líder complementaram meu conhecimento técnico.

Hoje, lidero um grupo de mais de 25 pessoas, incluindo gerentes com seus próprios times e dois colaboradores diretos em iniciativas especiais. Uma das minhas principais missões é estabelecer padrões e técnicas adotados por cerca de 70 profissionais, impactando diretamente as operações da empresa. Com tantas pessoas e projetos, tornou-se impossível acompanhar todas as minúcias técnicas. Meu foco está em capacitar o time e promover o crescimento técnico dos engenheiros.

Minha rotina diária mudou drasticamente. Passo o dia em reuniões, escrevendo e-mails e ajudando os outros a progredirem em seu trabalho. No início, isso era frustrante. Eu frequentemente dizia à minha esposa: “Hoje eu não fiz nada, só participei de reuniões”. Mas percebi que reuniões são o meu trabalho agora. É por meio delas, junto de e-mails e documentação, que avanço os objetivos do time e da empresa. Meu impacto vem de alinhar e direcionar um grupo de pessoas talentosas para resultados excepcionais.

No final das contas, compreendi que, por mais habilidoso que eu seja tecnicamente, o sucesso vem da soma dos esforços de um time bem treinado e focado. Liderar não é sobre fazer tudo sozinho, mas sobre capacitar outros a fazerem o melhor trabalho de suas vidas.

Se você está ponderando entre continuar como contribuidor técnico ou seguir para a liderança, recomendo refletir sobre seus interesses e onde você sente que pode causar mais impacto. A vida como engenheiro permite focar na profundidade técnica e criar soluções diretamente. Já a liderança exige desenvolver habilidades interpessoais, promover a colaboração e alcançar resultados através de outras pessoas. Nem todo mundo precisa ou quer ser líder, e isso está perfeitamente bem. O importante é ser honesto consigo mesmo sobre o que você valoriza e o que realmente lhe motiva.

Caso decida explorar a liderança, prepare-se para sair da sua zona de conforto. Aceite que sua medida de sucesso mudará: você não será mais avaliado pelo que entrega individualmente, mas pelo sucesso do time como um todo. Invista tempo aprendendo sobre comunicação, gerenciamento de pessoas e como criar um ambiente colaborativo. Lembre-se de que liderança não é sobre ter todas as respostas, mas sim sobre guiar, empoderar e inspirar outras pessoas. Com paciência e disposição para crescer, você pode transformar essa transição em uma das etapas mais gratificantes da sua carreira.