Em toda minha carreira em TI, eu já fiz um pouco de tudo. Em empresas pequenas e médias, onde comecei, era comum eu estar ajustando uma rede num dia e lidando com um mouse rebelde no outro. Não era exatamente o que se chama de “mobilidade interna”, mas certamente eu não ficava parado.
Porém, quando a gente fala de grandes corporações, a história muda de figura. Meu primeiro pulo para uma empresa grande foi na IBM, lá por 2004. Fica pra outro dia a explicação, mas eu achei que estava sendo entrevistado para uma posição no time de Unix. Qual foi minha surpresa no meu primeiro dia de trabalho quando descobri que tinha sido contratado no time de rede!
Ao mesmo tempo que comecei a aprender o máximo que podia sobre redes, eu sempre que possível, tentava me envolver com alguma coisa de Unix ou Linux. Não era fácil, já que a empresa era bem rígida e cada time tinha uma responsabilidade e acessos bem definidos.
Eu acabava ajudando aqui e ali, dando pitaco, me voluntariando para trabalhos onde o time de rede e de Unix iriam trabalhar juntos e, vez por outra, conseguindo acesso a servidores Linux que eram usados como firewall, fazendo deles “equipamento de rede”.
Quando nos mudamos para o Canadá eu consegui um emprego de terceiro trabalhando para o banco Morgan Stanley. Lá a coisa era ainda mais rígida. Não só pelo fato de ser um ambiente ainda mais restrito em termos de separar o que cada pessoa ou time faz, mas ainda por cima sendo terceiro eu nem sequer tinha visibilidade ou acesso a outras pessoas ou grupos. Juntando isso com um salário baixo e o fato que automatizei meu trabalho, não durei muito tempo lá antes de pedir as contas.
Quando fui trabalhar para o Google em 2015 muitas coisas me chamaram a atenção e demonstraram porquê a empresa é líder em tantos aspectos e – pelo menos na época – era um excelente lugar para trabalhar.
Mas uma coisa específica me atraiu imediatamente: Um programa chamado “Engineering Exchange” ou “Intercâmbio de Engenharia”, onde funcionários de um departamento podiam aplicar para trabalhar para outro departamento completamente diferente por períodos de algumas semanas até alguns meses. Foi assim que acabei trabalhando em um dos datacenters lá, mas isso também fica para outro dia.
Acelerando a narrativa para o presente, estou novamente em uma grande empresa e dessa vez numa posição de liderança. Fiquei muito feliz em descobrir que existem programas internos de mobilidade. Ambos oficiais e de raiz, onde grupos trocam funcionários por três meses ou mais.
Essa descoberta me levou a refletir sobre as múltiplas facetas e benefícios da mobilidade interna, não só como gestor, mas também a partir das minhas vivências. Ao longo dos anos, percebi que, independentemente do tamanho da empresa, a mobilidade interna sempre teve um papel crucial no meu desenvolvimento e naqueles ao meu redor.
Vamos então mergulhar um pouco mais fundo nesse tema. Primeiro, consideremos as vantagens do ponto de vista do profissional. Por que a mobilidade interna é tão valiosa para o crescimento individual? Como ela pode moldar uma carreira e abrir novos horizontes? Vamos explorar isso juntos.
Benefícios da mobilidade interna para o desenvolvimento profissional
A mobilidade interna permite que os funcionários adquiram novas habilidades e experiências, expandindo suas competências profissionais. Ao mudar de cargo ou área, o profissional tem a oportunidade de aprender novas funções, tecnologias e processos. Isso contribui para o seu crescimento e torna seu perfil mais completo e atraente no mercado de trabalho.
Além disso, a mobilidade interna estimula os funcionários a saírem da zona de conforto e buscarem novos desafios. Ao assumir novas responsabilidades e projetos, o profissional precisa aplicar seu conhecimento de novas maneiras e desenvolver sua capacidade de resolução de problemas e adaptação.
Outro benefício é que a mobilidade interna funciona como um planejamento de carreira dentro da própria empresa. O funcionário pode traçar uma trajetória de crescimento, passando por diferentes áreas e cargos de acordo com seus interesses profissionais. Isso aumenta sua empregabilidade.
A mobilidade interna também permite que os profissionais descubram novas áreas de interesse e vocações. Um funcionário pode começar na área de vendas e depois descobrir que tem mais afinidade com marketing, por exemplo. Essa flexibilidade ajuda as pessoas a encontrarem seus talentos.
Por fim, a mobilidade interna envia uma mensagem positiva aos funcionários, mostrando que a empresa se importa com seu desenvolvimento e está disposta a investir neles. Isso melhora o engajamento e comprometimento com os objetivos organizacionais.
Do ponto de vista da empresa também existem muitas vantagens:
Benefícios da mobilidade interna para as empresas
A mobilidade interna permite que as empresas preencham vagas com talentos já familiarizados com a cultura e os processos organizacionais. Isso reduz os custos e o tempo gasto com recrutamento e integração de novos funcionários.
Além disso, a mobilidade interna ajuda a reter talentos, reduzindo a rotatividade. Profissionais que veem possibilidades de crescimento dentro da empresa tendem a ficar mais tempo no emprego.
Outro benefício é o desenvolvimento de uma força de trabalho mais diversa e flexível. Ao proporcionar experiências em diferentes áreas, a mobilidade interna torna os profissionais mais completos e preparados para assumir diversas funções conforme a necessidade.
A mobilidade interna também promove a inovação, pois possibilita a troca de conhecimentos e experiências entre áreas. Profissionais que conhecem diferentes processos podem trazer novas perspectivas e ideias.
Por fim, a mobilidade interna melhora o engajamento dos funcionários, que se sentem valorizados pela empresa. Isso aumenta a produtividade e qualidade do trabalho entregue.
Conclusão: Mobilidade Interna – Uma Estrada de Duas Vias para o Sucesso
Depois de tantos anos na estrada da TI, uma coisa ficou clara: a mobilidade interna não é só um ‘nice to have’, é um ‘must have’ tanto para os profissionais quanto para as empresas. Ela é como aquela estrada de duas vias onde todos ganham – nós, desenvolvendo habilidades e conhecimentos novos, e as empresas, colhendo os frutos de ter uma equipe mais versátil e engajada.
Nas pequenas e médias empresas, essa mobilidade é quase como respirar – natural e essencial. Nas grandes, é mais um jogo estratégico, mas igualmente vital.
Para os que estão lendo e pensando em como aplicar isso na carreira ou na empresa: experimentem, explorem, não tenham medo de sair da zona de conforto. A mobilidade interna pode ser a chave para descobrir talentos escondidos e abrir portas que nem sabíamos que existiam.
Então, seja você um gerente tentando impulsionar sua equipe ou um profissional de TI buscando crescer, lembre-se: a mobilidade interna é mais do que um conceito, é uma prática que traz resultados reais. Vale a pena investir nela.