Povo alegre?

By | October 1, 2011

Nem dá pra chamar de férias já que minha recente viagem ao Brasil consistiu em um rápido bate-volta de 4 dias apenas para ver a família.
Mas é lógico que não dá pra deixar deixar de comentar algumas coisas, afinal já fazem 4 anos que moramos no Canadá e faziam 2 anos desde que estivemos por lá pela última vez.

Não preciso nem dizer que ao chegar no aeroporto de Guarulhos eu já estava pronto pra voltar pra Halifax, mesmo depois de 11 horas de vôo. Aquela aglomeração, aquela gente barulhenta, uma péssima infra-estrutura, baita demora para as malas saírem, etc.

Uma coisa que eu não estava sabendo e me assustou um pouco foi que não temos mais agentes da polícia federal nos guichês da imigração. Aparentemente o serviço foi terceirizado e fomos atendidos por uma menina novinha que não me inspirou nenhum tipo de confiança – no sentido de que ela não saberia dizer a diferença entre um passaporte legítimo e uma cópia feita com papel A4 e lápis colorido. Será que estou acostumado com a segurança e rigor da américa do norte ou o Brasil virou a casa da mãe Joana? Fica a dica pros potenciais fugitivos da justiça: Vai pro Brasil que tá fácil entrar lá.

Devidamente pegos pelos familiares no desembarque fomos enfrentar o trânsito de São Paulo na hora de almoço de uma sexta-feira. O que me fez ficar mais tranquilo foi lembrar que em apenas 4 dias aquela tortura ia acabar e eu ia voltar pra casa. E como se uma hora no trânsito para chegar no restaurante onde iríamos almoçar não fosse o suficiente ainda por cima a temperatura estava nos desagradáveis 33.o C. Em pleno inverno.

Chegando no restaurante, uma churrascaria na Juscelino Kubitschek, começou o nosso choque cultural.
Pra começar manobrista e mais 3 outras pessoas cercaram o carro, cada um abrindo uma porta para os passageiros descerem. Começou mal. Pra quê isso minha gente? Eu entro e saio sozinho do meu carro o tempo todo e nunca tive dificuldade nenhuma. Tenho certeza que ia conseguir fazer isso lá também. E não era o meu carro mas hoje em dia não ia gostar de alguém dirigindo e estacionando ele não. Também sei fazer isso sozinho e minha carteira de motorista prova isso. Bom… de qualquer forma…

Entramos no restaurante e a hostess (tem palavra em português pra isso?) diz: “Olá, tudo bem?”. E a esposa, no melhor estilo canadense, vira e responde: “Tudo ótimo. E você? Como está? “. Pronto… Deu tilt na mulher. Acho que nunca ninguém perguntou pra ela como ela estava e não tinha a menor idéia do que responder. Momento de silêncio…

Fomos comendo e comecei a perceber uma coisa… Lembro que quando saí do Brasil o lugar onde você era melhor tratado qualquer dia e hora era numa churrascaria. Não em uma churrascaria em particular. Qualquer churrascaria. Os garçons sempre felizes e sorridentes, fazendo piadinhas, falando das qualidades da carne cujo espeto ostentavam naquele momento… No geral pareciam realmente gostar do que faziam. Exceto o coitado que serve “tender com abacaxi”. Esse sempre foi um miserável.
Os gerentes e supervisores então, cheios de dedos e sorridentes. Cada cliente era tratado como a última bolacha do pacote.

Nessa visita eu achei os garçons extremamente infelizes e entediados com o trabalho deles. Abrir a boca para dizer o nome da carne parecia um sofrimento e não ouvi nenhuma piadinha a respeito de “picanha mineira” quando trouxeram queijo na brasa. Mas até aí estava achando que o problema foi naquele restaurante.

Só que aparentemente o buraco é mais embaixo. Durante nossos dias lá fomos fazer diversos passeios e compras e o que eu senti foi uma mistura de tensão social e desgosto com a vida que não é o conceito geral que se tem dos brasileiros.

Exceto pela honrosa excessão da Livraria Cultura onde fomos atendidos por um rapaz super educado e prestativo todos os outros lugares onde fomos, incluindo restaurantes, lojas, super-mercados e até o mercado municipal o que eu senti é que as pessoas que trabalham nos estabelecimentos ou odeiam seus empregos ou odeiam seus clientes ou odeiam as pessoas pela diferença social ou – provavelmente – todos os anteriores.

É tão agradável entrar num estabelecimento aqui em Halifax e alguém te dizer: “Bom dia, tudo bem hoje?” e puxar conversa “Como tá lá fora? Já começou a chover?”. No Brasil acho que não consegui nem um “obrigado” depois de comprar alguma coisa e pagar por esta.

Um passeio pelo centro de São Paulo também não ajudou muito. Além do medo que passamos e do desagradável cheiro de urina que permeia todo o centro velho só o que eu vi foram pessoas sisudas. Mas meio que entendo já que andando por lá eu também não estava me sentindo muito feliz não.

E conversar com parentes e amigos não ajudou muito a desfazer essa minha má impressão. Não teve uma única pessoa com quem conversamos que em algum momento não tenha reclamado de alguma coisa – do trânsito, dos impostos, do governo, dos preços absurdos ou de algumas novas leis que ultrapassam o ridículo.

Já estou fora de São Paulo desde 2004 e fora do Brasil desde 2007 mas essa foi a primeira vez que voltando lá eu senti que as pessoas estão miseráveis – e não no sentido de pobreza. Muito triste isso.

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3 thoughts on “Povo alegre?

  1. Fernando Pedro

    Foda issa cara. Eu tiro por base Goiânia. Até poucos anos atrás uma cidade com um trânsito bom, pessoas educadas, segurança relativamente boa (infelizmente no Brasil isso é bom).
    Hoje o que vejo, ainda mais estando fora de lá, é que a coisa degringolou de vez. Segurança não existe. As pessoas não são felizes, apesar de aparentarem (o famoso viver de aparências).
    A questão dos impostos e infra-estrutura nem preciso comentar.
    Como você sabe estou passando uma temporada no Timor Leste. E, apesar de toda história recente de desgraça desse povo, é um povo alegre, não tem maldade, não existe o famoso jeitinho brasileiro, a segurança funciona bem e todos, sem exceção, adoram conversar e tratar bem as pessoas, apesar de ainda estarem aprendendo isso.
    Lógico que tem crimes (poucos mas tem), tem gente mal educada e mal humorada (com hífem ou sem?). Mas é uma minoria, não é o mais comum.
    Enfim, eu como brasileiro que irei voltar pra lá, não tenho esperanças de melhoras do país, mas isso é principalmente pelo seu povo, que não cobra, que só faz festa e tá tudo bem.
    Vou parando por aqui senão acabo escrevendo um post nos comentários kkkkk
    Abraço

  2. Toni Kukul

    Convenhamos, São Paulo, não é a melhor das referências. O que eu acho mesmo infeliz é essa capacidade que os brasileiros têm de desconstruir o país em vivem (ou viveram).

  3. Mari

    Oi Eri, q horror isso q vc escreveu, deve ser verdade mesmo mas quem ta por aqui nao percebe tanto… Alias, nesses seus dias aqui em sp no unico dia q eu ia poder ver vcs, nao pude ir porque fui parar na delegacia (amigo e amiga q se bateram!)o dia todo:( Então como nao avisei, sou em alguma parte responsavel pelo pessimo brasil q vc visitou! Espero q vc entenda! 🙂

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