Escrever este post me fez refletir sobre como algumas decisões impulsivas podem virar ótimas experiências. Tudo começou com um programa de trabalho remoto da minha empresa, uma curiosidade sobre a Argentina de Milei e uma ligação oportuna. Resultado? Passei um mês trabalhando de lá, fugindo do inverno de Halifax, no Canadá, e vendo de perto como é a vida num país que parece estar tentando se reinventar. Vamos por partes.

Trabalho Remoto: A Liberdade de Escolher o Cenário

Uma das coisas que mais curto no meu emprego atual é a flexibilidade. Eles têm dois programas de trabalho remoto que são perfeitos pra quem gosta de explorar o mundo sem largar o contracheque. O primeiro, mais “oficial”, permite trabalhar por até quatro meses em alguns países pré-aprovados, com apoio do time de relocação. O segundo, que usei dessa vez, é mais roots: até um mês em (quase) qualquer lugar do mundo, desde que você se vire sozinho com vistos, internet e logística. Escolhi a Argentina — e logo explico por quê.

Por Que Argentina?

O mundo tá uma bagunça política e cultural, mas alguns lugares parecem estar nadando contra a corrente. Na América Latina, El Salvador e Argentina me chamam atenção. Aqui no Canadá, acompanho de longe o presidente Javier Milei e suas ideias libertárias. Ele tá cortando gastos, enfrentando inflação e tentando tirar o país do buraco — e, pelo menos no papel, parece estar funcionando. Queria ver isso na prática. Aí, por um acaso, descobri que um conhecido de Halifax tinha se mudado pra lá. Mandei um e-mail, marcamos uma ligação de três horas e saí do papo ainda mais intrigado. No dia seguinte, já estava falando com o RH, comprando passagens e reservando AirBnB. Destino: um mês na Argentina com a esposa.

Primeira Parada: Buenos Aires

Chegamos em Buenos Aires sem saber muito o que esperar. Tinha ouvido que era tudo em dinheiro por causa da inflação e que cartão não pegava. Spoiler: não foi bem assim. Cartão de crédito rolou tranquilo — usei American Express quase o tempo todo. Ficamos num AirBnB bem localizado, com Wifi decente (essencial pra quem tá trabalhando, não turistando) e perto de restaurantes e mercados. A vista era meh, mas o calor era de outro mundo.

Aí veio a aventura: um blackout gigante. O calorão sobrecarregou o sistema elétrico, e a energia caiu por mais de 26 horas onde estávamos. O prédio até contratou um gerador monstro que bloqueou a rua, mas o Wifi, milagrosamente, ficou no ar com as luzes de emergência. Com notebook carregado e um power bank, consegui trabalhar. À noite, sem ar-condicionado, dormimos com a varanda aberta — Buenos Aires é surpreendentemente silenciosa pra uma capital. No dia seguinte, usei o espaço de coworking do prédio até a energia voltar (o gerador estava conectado lá). Fora isso, comemos bem (carne argentina não decepciona) e a esposa explorou a cidade enquanto eu batia ponto virtual.

Mendoza: Onde a Argentina Me Ganhou

Depois de uma semana, fomos pra Mendoza, perto da cordilheira dos Andes, onde meu conhecido mora. A sensação ali me lembrou Sumaré, no interior de SP, onde vivi antes do Canadá. As casas têm muros altos, grades e arame farpado, o que me deu um frio na espinha no começo. Será que era perigoso? Não, é só o padrão local. Fora o centro da cidade, me senti seguro, apesar de umas figuras meio suspeitas aqui e ali.

Mendoza foi onde deu pra sentir o dia a dia. Fomos a mercados, restaurantes, shoppings e até cortei a barba numa barbearia local. As calçadas quebradas e mal cuidadas, tipo retalhos, gritaram Brasil. Os preços? Carne, vinho, legumes e laticínios são baratos e ótimos — um alívio comparado aos valores absurdos do Canadá. Mas produtos industrializados? Caros e de qualidade duvidosa. Parece que a Argentina ainda sofre com protecionismo ou falta de competição externa, algo que o Milei quer mudar. Marcas internacionais? Raras. Vi uns três McDonald’s e um Subway em um mês. Carros? Modelos europeus antigos, muitos com 30 anos na cara. Uber, por outro lado, é pechincha — pagávamos entre CAD 4 e CAD 9 por corrida, contra no mínimo CAD 25 aqui.

Impressões Geek: Infra e Conectividade

Não posso pular essa parte. No primeiro dia, comprei dois eSIM da Claro com 25GB por CAD 49 — muito mais barato que no Canadá. A cobertura LTE foi impecável em Buenos Aires e Mendoza. Nos três AirBnBs que ficamos, o Wifi segurou minhas videochamadas sem engasgar. Tirando o blackout, a infra me atendeu bem pra trabalhar remoto.

Argentina no Contexto: Milei Está Dando Certo?

A inflação parece estar domada — não notei oscilações grandes nos preços durante o mês. Cartão pegou em tudo, contrariando os boatos. Mas o país ainda tem chão pela frente. A qualidade dos produtos, a infraestrutura e a sensação de “atraso” (uns 5-10 anos atrás do Brasil, na minha opinião) mostram que o trabalho do Milei é hercúleo. Ainda assim, vi sinais de esperança, especialmente em Mendoza, onde a vida parece mais simples e acessível.

Valeu a Pena?

Sim. Escapamos do pior do inverno canadense, conhecemos um país em transformação e testamos como seria morar lá. A Argentina me surpreendeu — não é o caos que pintam, mas também não é um paraíso. Foi uma experiência pessoal e profissional que misturou curiosidade geopolítica com a praticidade do trabalho remoto. Quem sabe o próximo é El Salvador?