A última vez que estive no Brasil foi em 2011 e, sinceramente, não estava com a menor vontade de visitar novamente. Mas por razões que não vale a pena discutir aqui resolvi que era o momento certo de ir.
Quem vive no Brasil, mesmo que vez por outra faça uma viagem internacional, está anestesiado em relação a horrível realidade que é viver aí, mas na minha última visita eu tinha ficado chocado e era essa a lembrança que tinha ficado.
Por incrível que pareça dessa vez não foi tão ruim. Na verdade, com exceção do calor horrível, foi bem aceitável.
Logo de cara chegamos no aeroporto de Guarulhos no terminal novo. Eu nem sabia que tinha terminal novo. Bacana, moderno e com leitor automático de passaporte. Nem fila pegamos. Passamos direto pela receita federal também. Uau. Que diferença da última vez, que já chegamos passando nervoso. (obs: num post futuro vou dar dicas de viagem e mostrar como a esposa e eu não despachamos mais bagagem)
Outro fator foi que em 2011 fomos no meio do ano, em dias normais. Quem aguenta São Paulo num dia normal? Dessa vez, entre Natal e Ano Novo, a cidade estava bem vazia. O trânsito estava aceitável até. Ainda acima do que estamos acostumados mesmo em dias ruins aqui no Colorado, mas aceitável.
Independente disso eu já tinha avisado que – de forma nenhuma – eu iria dirigir em São Paulo. Metrô e carona foram nossas formas de transporte durante as férias.
E o metrô tá bem bacaninha, viu? Ar-condicionado e tudo. E pegamos a “nova” linha amarela. Nada mal. Imagino que durante dias normais no ano letivo deve ser um pesadelo, mas nesses dias de férias e fora de horário de pico, foi bem agradável. Certo que algumas vezes tinha gente pedindo esmola dentro dos vagões, mas isso não é novidade.
Mas chega de falar bem, senão vão achar que gostei. 😛
No dia que chegamos em Sampa saí com meu pai e minha irmã. Estacionamos o carro num lado da rua e atravessamos para o outro. Eu e minha irmã fazemos questão de atravessar na faixa de pedestre. Na volta assim que pisamos na faixa de pedestre eu vejo, do outro lado, três policiais da ROCAM cercando um sujeito numa moto e descendo com armas em mãos apontando pro fulano e gritando. Nesses nossos 9 anos fora do Brasil nunca vi um policial tirar a arma do coldre. Então já começamos bem…
No segundo dia estávamos voltando pra casa do mercado (eu acho) com o meu pai dirigindo e quando paramos em um semáforo meu pai fala: Vixi! Roubaram a moto do moço.
Eu perdi a ação, mas aparentemente o cara parou no semáforo com moto dele e uma outra moto com dois sujeitos parou do lado. Um sacou a arma, fez o cara descer e já levou embora. E viva o Brasil. Mais uma vez, no Canadá nem furto de veículos ouvia falar muito. Era notícia no rádio quando acontecia um. Aqui no Colorado furto parece ser um pouco mais comum, mas roubo? Nope.
No quarto dia estávamos dentro do Conjunto Nacional na Av. Paulista quando percebo uma comoção. Eram uns 4 ou 5 seguranças cercando um fulano. Êlaiá!
A quantidade de desabrigados, mendigos, pedintes e maloqueiros em geral também é de assustar. A maior parte das vezes que andamos a pé foi na Av. Paulista, que estava bem policiada (por causa da “virada na Paulista”?), então o medo não foi tanto. Mas o sentimento de insegurança e medo era constante.
Mas uma coisa que observei é que toda loja, barzinho ou escritório, não importa quão pequeno, tinha pelo um segurança particular. É sério amigos? É aceitável pra vocês viver numa situação dessas?
Vamos falar um pouco de educação e cultura então. Combinamos de encontrar uns amigos num barzinho na Paulista. Éramos apenas seis pessoas numa mesa pequena, mas era simplesmente impossível conversar! Em todas as mesas ao nosso redor todo mundo falando muito alto, vira-e-mexe todos falando juntos, rindo alto, querendo chamar a atenção um mais do que o outro. Sério que se em algum restaurante no Canadá alguém tivesse fazendo uma zona igual o povo no Brasil a polícia teria sido chamada. Que cultura horrível.
Aliás, falar alto, pra todo mundo ouvir, parece ser obrigatório. As pessoas discutindo entre si ou no telefone, em voz alta, todo tipo de assunto particular. Eu diria que intencionalmente querendo que outras pessoas ouvissem. Sei lá… Se sentem mais importantes se uma pessoa aleatória no metrô ficar sabendo dos seus planos de férias na praia? “Nossa, esse deve estar bem de vida né?”. Só pode ser. Eu não entendo discutir assuntos particulares em público, principalmente em qualquer volume que seja mais alto do que um sussurro.
Um dia estava trancado no quarto tentando aliviar o calor no ar-condicionado e liguei a TV. Arrependimento imediato. TV aberta no meio da semana? Sério que me deu nojo. Primeiro peguei um desses programas que exploram desgraças e desavenças em famílias. Foram 2 minutos e mudei de canal. Ai estava passando uma reportagem sobre um modelo novo da Porsche. Não sou muito chegado em carro, mas vamos assistir né? Quando acaba a reportagem uns 3 minutos depois volta pro apresentador… Era um programa “evangélico” sobre prosperidade falando como você, doando dinheiro pra aquela igreja, também pode ter um Porsche daqueles. Assisti mais uns 10 minutos só de curiosidade mórbida. Sendo eu um evangélico me dá tristeza de ver o que eu vi. Por favor, não vejam esses programas e assumam que isso é Cristianismo. Não é!
Num outro dia estava esperando meus pais na sala e minha mãe deixou a TV ligada em alguma dessas novelas da Globo. Minha nossa! Como alguém consegue assistir isso? Vi apenas um bloco e não consegui decidir se o pior eram os artistas ou a história. Parecia uma pecinha teatral da quinta série. Sei lá… Netflix Originals me deixaram mal-acostumado?
E agora, meu assunto favorito: Os preços. Vocês estão tudo fora da realidade. Um dia meu pai um churrasquinho em casa. O preço que ele pagou na picanha eu provavelmente compro meio boi por aqui. Sem exagero a carne mais cara possível de comprar na Costco custa $54/kg. Não que eu já tenha comprado, mas sempre olho pra ela e imagino qual deve ser o sabor… E se realmente vale $54 mangos. Minha discussão sobre preço e valor vai ficar pra outro post, mas minha conclusão é que Brasileiro não é só rico ou só trouxa. É rico e trouxa.
Eu estava com vontade de comer uma comida mineira e fomos num restaurante a quilo no Shopping. O almoço tinha sido bom então a esposa pegou pouca comida e eu também peguei menos do que seria o meu normal. A conta? $71! Mano! 71 mangos no quilo? Que isso? Sei lá… eu tô de férias, tinha uns Reais guardados que precisava gastar e também o que paguei no cartão de crédito foi convertido no câmbio e não saiu absurdamente caro pra mim, mas mesmo assim fiquei revoltado com os preços. De forma nenhuma consigo me imaginar gastando uma fortuna dessas no meu dia-a-dia. Pagamos 12 mangos num lanche americano na padoca. Insano.
Particularmente acho que o Brasil não tem jeito e que a única saída é pelo aeroporto. Já fiz minha parte quase 10 anos atrás. Mas conversando com um amigo – que também já está com o dedo no gatilho pra sair esse ano – ele me pareceu mais otimista. Ele acredita que o Brasil ainda tem jeito e que pode melhorar. Ele só acha que ninguém da nossa geração vai estar vivo pra ver isso acontecer.
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Eu tô indo pra lá agora. Já assustado com preço de hotel e transporte por lá. Pelo visto vai ser uma pancada no estomago estar por lá. :$
Essa é a mais pura realidade, que infelizmente
estamos vivendo.
É, ta bem difícil viver aqui mesmo. Como você disse: os preços aqui estão de assustar! O resto dos problemas são os mesmos de sempre… Tenho me esforçado para usar menos o caro e por isso comprei uma bike. Mas comprei uma pensando no risco de assaltos já que isso é comum aqui. Por isso optei por uma barata e que não chame a atenção dos bandidos. O quão triste é ter que fazer uma coisa dessa? Também uso, esporadicamente, o ônibus. Esse somente quando fora de horário de pico mas (também) com medo de assaltos… É, pode até melhorar, mas acho que nem meu filho vai ver isso.
O Renato aí voltando to com dó.
Meu projeto de ir embora ainda não se acabou mas o foco mudou: o objetivo já é vazar com um emprego remoto internacional. O remoto já consegui agora começar a encaminhar o resto.
hahahahaha
caramba… q azarzinho hein!!! Eu nunca vi um roubo ao vivo… e não me irrita tanto as pessoas pedirem coisas no trem quanto os vendedores de muambas na praia…
Eri, vcs foram num restaurante caríssimo… tem que lembrar q o Brasil é um país com uma desigualdade tremenda, tem preço pra todos os bolsos… Mas tem que explorar!rs
Também sou do time que tem esperança… andei na linha amarela em dias normais, parecia filme do futuro! : )