Apesar deste ser um tema recorrente no meu dia-a-dia, principalmente conversando com meus pais ou minha irmã, acho que nunca falei sobre isso aqui no blog.

Hoje, conferindo as notícia no BR-Linux, me deparo com este post.

Vou destacar aqui a parte interessante:

“o requisito essencial é ter formação de nível superior nas áreas diretamente ligadas à informática e computação. Pelo que entendi, as vagas são por tempo indeterminado (não é contrato temporário), e o salário inicial é o piso da categoria definido pelo sindicato.”

Ou seja, precisa de nível superior pra ganhar um salário de fome. Isso é ridículo.

Eu não sou formado, apesar de ter frequentado universidade(s), e tenho orgulho disso. Acho que meu pai ainda não se conformou com a idéia, mas exceto se eu ficar milionário e puder fazer o que quiser da vida, incluindo uma faculdade de gastronomia, história ou agronomia, não vou pisar numa faculdade no futuro.

Um dos principais motivos que me leva a isso são exigências como para o emprego acima. É o típico emprego medíocre, para pessoas medíocres. E sim, nível superior é coisa de gente medíocre, pelo menos quando se fala em TI.

Digo sem medo de errar que os melhores profissionais com quem já trabalhei não tinham superior completo, ou tinham em uma área completamente diferente, como eletrônica e direito.

Alguns deles, com medinho deste mundo mau e competitivo que os cerca, resolveu voltar pra faculdade (né, Chico?) ou então fazer um daqueles cursos me-engana-que-eu-gosto, onde o professor finge que ensina, você finge que aprende e no final eles te dão um canudo. Também conhecido como “compre seu diploma em 24 vezes sem juros”.

Lógico que conheço gente muito boa que tem nível superior na área, como o Silvio, que se formou em ciência(s)? da computação. Mas ele é nerd de berço e mais um que sucumbiu às exigências mundanas. (ps: Seu fraco!)

Ai no Brasil são poucos os que não se entregam ao fatalismo e resistem bravamente, como o Júlio e  o Marcelo, mas aqui no Canadá a coisa é diferente.

Ao que parece aqui as empresas tem uma melhor noção da realidade e sabem que canudo pra profissional de TI não significa muita coisa. A maior parte dos anúncios de emprego pede “superior completo OU combinação de treinamentos e experiências equivalente”, onde se encaixa este que vos fala.

E conversando com meus colegas que estão passando esse maldito mês em NY aqui  comigo, descobri que ninguém do time tem nível superior.  Não é impressionante?

Não, não é. Para ser um bom profissional em TI você tem que ser estudioso, curioso, adorar aprender e adorar desafios. Tem que estar preparado para mudanças constantes e quebra de paradigmas o tempo todo. Como diz o meu chefe, o bom profissional é aquele que pensa “fora da caixa”. Lógico, andar com as próprias pernas é essencial.

E nada disso se aprende no ensino formal.  Lá tem um pangaré falando sobre um assunto desatualizado e irrelevante, sem nenhum conhecimento prático, já que a maioria deles é “professor” e não profissional de TI, passando o ponto de vista dele, completamente defasado e equivocado (professor, lembra?) e usando metodologias horríveis de ensino, do famoso tipo “escreve o que eu estou falando e cale a boca”.

E não que eu deseje o mal para esta empresa que postou o anúncio da vaga não, mas as chances de que eles peguem um nego muito muito ruim é muito maior do que se eles tivessem deixado a exigência de nível superior de lado.

 UPDATE

O Augusto é um cara que eu respeito. Meritocracia é algo que (ainda) funciona pros geeks e sabendo que ele tem plenas condições intelectuais de ler e interpretar um texto, sou obrigado a assumir que minha redação não está das melhores, como eu já havia dito antes

O último acordo sindical do SEPD é de 2006. Piso salarial pra nível superior?  R$ 1217,00.

Desculpem, mas isso é uma vergonha. Ridículo.

Não é culpa da empresa, claro. Aliás, de nenhuma empresa. A culpa é dos profissionais de TI mesmo. Já fomos a elite da elite. Valíamos o nosso peso em ouro, mas neste país fétido onde 15 mil pessoas fazem tumulto pra ser candidatas a gari a explicação pra esse salário de fome pode ser muito complexa pra este blog.

Agora, discordo totalmente que para ganhar o piso alguém deve ter a formação definida pela categoria. Aliás, aqui eu poderia entrar numa longa discussão sobre não ter pedido pra ninguém me representar e o quanto eu odeio sindicatos e o dinheiro do meu um dia de trabalho que precisei dar pra eles todos os anos que trabalhei no Brasil. Mas olha só… Não é mais problema meu! 🙂

Mas voltando a falar do piso salarial, me veio a memória agora um dos meus ex-colegas da minha última empresa no Brasil. Assim como eu, ele também não tinha nenhuma formação e apesar de não saber o salário exato dele, por uma nomenclatura interna da empresa eu sei que estava entre R$ 12.000,00 e R$ 20.000,00. Eu eu garanto: Puro mérito e competência.

Os sistemas que ele projetou e implementou geraram milhões em lucro para empresa, tornaram-a extremamente competiva, flexível e ajudaram a alavancar a capacidade de bater de frente com a Índia e a China pelos contratos de outsourcing que estavam em disputa. A mesa dele era repleta de prêmios e placas de agradecimento da empresa e de clientes.

Mas… Ele não passaria na seleção da empresa ai em cima, passaria?

É ai que quero chegar. A empresa não está errada em oferecer o salário definido para a classe. O errado é assumir que alguém é menos competente do que outrem devido à falta do canudo.

Errado também é o Brasil aceitar que um profissional com nível superior receba R$ 1.200,00 por mês.

Mas mais errado ainda sou eu, que me importo com isso.

Nunca tive problemas para arranjar emprego e mesmo com minha “deficiência” educacional sempre estive bem acima do piso e pra melhorar nem moro mais no Brasil.